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sexta-feira, 2 de junho de 2023

Mais um noite.




E ali estava ele. Mais uma vez, à noite, sem dormir. Mais uma noite e ele nem mais contava quantas tinham sido. Nem tanto ansioso, desta vez. Nem tão mais preocupado com a hora que avançava, com o dia seguinte, que não tardaria, chegava, e com as tarefas e com a rotina que teria que seguir.

Mais uma noite, e ele ali. Sozinho, como tinha sido de dia, mas com a melancolia do silêncio daqueles que insistem em dormir.

Mais uma noite, estava ali. No conforto desconcertante do sofá e com a cabeça abarrotada de ideias, que insistiam em não lhe deixar.

Fazia tanto tempo, mas parece que foi ontem. Não viu, não viveu, mas sentia, assim como o faminto sente a fome. Doía, como um membro que se quebra, um vaso que se rompe.

Não há espaço para razão. Que chega, se manifesta, mas é engolida pela soberba da emoção.

Não há lugar para distração. Que se apresenta, até tenta, mas fica ofuscada pela obsessão.

Não há lugar para mais nada. Está tudo consumido pela tristeza, pela decepção.

Mais uma noite, e ele ali. Tentando, sublimando e, de repente, tudo de volta a lhe consumir. Como um vício, maldito, que insiste em lhe trair. Como uma ideia, abstrata, complicada demais para se abstrair.

 

Mais uma noite. Ele ali.  

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